O Acompanhamento Terapêutico é um trabalho clínico que visa promover a autonomia e a reinserção social, bem como uma melhora na organização subjetiva do paciente, por meio da ampliação da circulação e da apropriação de espaços públicos e privados.
O AT é indicado para aqueles que se encontram em uma situação de sofrimento psíquico intenso, por vezes em condição de isolamento e com grandes dificuldades para conduzir sua vida e seus projetos. É um recurso utilizado tanto em estados de crise aguda, como em períodos crônicos de angústia e estagnação. O trabalho clínico se desenvolve através de encontros cujo campo de ação é o cotidiano dos sujeitos acompanhados e um fazer em comum, por meio do qual o paciente pode encontrar uma maneira de conduzir sua vida de forma mais autônoma. Os atendimentos podem acontecer em casa e/ou em outros espaços da cidade como cinemas, lanchonetes, shoppings, teatros, escolas etc. Cada projeto terapêutico é elaborado pela Equipe de AT’s do Instituto A Casa de maneira singular, a partir das demandas do paciente, da família e dos profissionais envolvidos. Duração e freqüência se definem em função de cada caso.
Pessoas com transtornos mentais, deficiência mental ou física, dependentes químicos, crianças e adolescentes com dificuldades no processo de escolarização e idosos no enfrentamento de questões decorrentes do envelhecimento, são exemplos de casos em que há indicação para o trabalho do AT. Para solicitar o trabalho de acompanhamento terapêutico, entre em contato com a Equipe por meio da secretaria do Instituto.
Histórico do AT
O Acompanhamento Terapêutico tem como precursores o movimento antipsiquiátrico e a psicoterapia institucional que ocorreram a partir da década de 50 na Europa e nos Estados Unidos. Os principais expoentes desse movimento foram Laing e Cooper, na Inglaterra; Basaglia, na Itália; Oury, na França, Tosquelles na Espanha e Szazs, nos EUA. Na América Latina, o AT surgiu no final da década de 60, em Buenos Aires. Lá, muitos psicanalistas eram ligados aos hospitais psiquiátricos, o que possibilitou que fossem criadas novas funções para os agentes de saúde mental, que passaram a ser denominados auxiliares psiquiátricos e, em outros lugares, atendentes terapêuticos. O caráter político deste dispositivo devia-se à busca por um outro lugar social para a loucura, de modo que os loucos pudessem ser recebidos pela sociedade naquele momento em que começavam a sair do manicômio. As funções desses agentes foram, assim, o embrião daquilo que mais tarde foi denominado de amigo qualificado e, posteriormente, de acompanhante terapêutico conforme o trabalho foi se consolidando e deixando as instituições psiquiátricas.
O processo argentino influenciou o movimento antipsiquiátrico que também ocorria no Brasil: o trabalho do auxiliar psiquiátrico passou por Porto Alegre e chegou às comunidades terapêuticas do Rio de Janeiro. No final da década de 70, com o declínio e o fechamento das comunidades terapêuticas, os auxiliares psiquiátricos continuaram a ser solicitados por terapeutas e familiares que buscavam uma alternativa à internação. Gradualmente, o AT foi se constituindo como um importante recurso no tratamento de pessoas em crises psicóticas e em situações de comprometimento psíquico.
Em São Paulo, o acompanhamento terapêutico foi trazido para o Instituto A Casa em 1981 pela psicanalista argentina Beatriz Aguirre, dois anos após sua fundação. Naquela época, e por alguns anos mais, o agente desse trabalho era denominado amigo qualificado. Sua tarefa consistia em ficar junto dos pacientes nos momentos em que não participavam das atividades do Hospital-Dia, pois alguns deles e, às vezes, também suas famílias, necessitavam de um apoio quando a Instituição não funcionava, principalmente nos finais de semana. Após alguns anos, o termo acompanhante terapêutico foi adotado, pois considerou-se que ele expressava de maneira mais adequada o trabalho que era realizado: mais do que uma amizade, o AT se caracteriza por seu alcance terapêutico através de um acompanhamento cuidadoso do paciente na sua vida cotidiana.
À medida em que o AT foi ganhando espaço como dispositivo de tratamento, houve um movimento crescente de formação e de produção teórica sobre esta prática, de modo que, hoje, o acompanhamento desempenha um importante papel nos projetos terapêuticos de saúde mental.