A organização contemporânea do trabalho exige dos trabalhadores um conjunto de habilidades e competências que dificulta e, não raro, inviabiliza, a inclusão de grupos sociais que apresentem algum tipo de desvantagem pessoal ou social.
No decorrer desse tempo, constatamos que os participantes do Núcleo de Preparação para o Trabalho em processo de inclusão social, e com indicação e desejo de fazê-lo através do trabalho, apresentavam muitas dificuldades em ingressar no mercado formal de trabalho, uma vez que este não está preparado para absorver e acolher as singularidades subjetivas de nossos participantes.
A relação desses sujeitos com o mundo se estabelece de maneira própria desde a forma singular de organização no tempo, a desorganização do cotidiano, e a dificuldade de ficarem submetidos ao ritmo imposto socialmente pelas formas de existência predominantes no mercado. Assim, para o desenvolvimento de nosso projeto consideramos imprescindível o olhar para essas peculiaridades na forma de relação com o mundo do trabalho, oferecendo a esses sujeitos a participação em espaços de discussão, de experimentação e aprendizado de atividades de trabalho com o objetivo de proporcionar novas e maiores oportunidades de (re) aproximação produtiva dos dispositivos sociais.
A validação das potências singulares, o desenvolvimento de aptidões, a aprendizagem de um oficio e a vivência da experiência de trabalho, se configura para alguns participantes como uma etapa no processo de inclusão ou de re/inclusão no mercado.Para estes participantes essa experiência, articulada à sustentação do tratamento, possibilita a construção ou reconstrução de um modo subjetivo capaz de suportar as exigências necessárias para enfrentar um processo de colocação ou re-colocação profissional.
Já para outros, as oficinas de trabalho configurarão o seu próprio lugar de inclusão, uma vez que mesmo com a sustentação das oficinas e do tratamento, não conseguiram construir ou reconstruir um modo subjetivo para responder às exigências do mercado formal.
Para atingirmos nossos objetivos contamos com uma equipe de profissionais que tem a psicanálise como teoria utilizada para a compreensão da subjetividade, e o trabalho com grupos enquanto dispositivo terapêutico de escolha levando-se em conta a multiplicação de fenômenos e vivências que este propicia e a potência terapêutica desse espaço criado.
Esta equipe tem a interdisciplinaridade como forma de funcionamento. A interdisciplinaridade tem por condição o encontro constante com outros enquadres, clínicas, discursos e campos do saber, que uma vez compartilhados possibilitam o transitivismo entre os membros da equipe e a não cristalização do poder. Assim, cada terapeuta da equipe é parte de um processo de criação e construção, sendo que aquilo que emerge desse processo não pode ser atribuído a um único autor.
A partir desses pressupostos, são compostas as coordenações de cada oficina do Núcleo, sendo que cada coordenação está sempre referida à equipe como um todo.
Essa equipe tem também como tarefa o trabalho com os familiares dos participantes envolvidos no Núcleo, com o objetivo de conscientização da importância de sua função como sustentadores do lugar possível no social que os participantes vêem constituindo.
A articulação com a comunidade, desde os recursos do bairro até os espaços de formação e de produção, pontos de venda, postos de trabalho, projetos que trabalham com os pressupostos da economia solidária, as universidades, as organizações não governamentais e outras instituições de Saúde Mental, promovem enfim o intercâmbio, a mobilização e a conscientização necessária, para o estabelecimento de parcerias fundamentais para a consolidação do exercício de cidadania de nossos participantes.